9.8.11


1935



Tenso como rede de nervos
pressentindo ah! novembro

de esperança e precipício.

Fruto peco.

Novembro de sangue e de heróis.

Grito de assombro morto na garganta,
soluço seco dor sem nome. Ferido.
De morte ferido. Como um animal ferido. Luta
de entranhas e dentes. Natal.

Sangue. Praia Vermelha.
Sangue.
Sangue. É quase um fio
escorrendo
e sangrento
tenaz
por dentro dos cárceres,
nas ilhas
e nos corações que a esperança guardaram.
Jacinta Passos

Este poema foi publicado no terceiro livro de Jacinta, Poemas Politicos, editado em 1951.
            1935 foi o ano de uma rebelião militar liderada pelos comunistas brasileiros. Planejada para explodir em todo o Brasil em novembro de 1935 e tomar o poder, eclodiu apenas, e de forma muito tímida, em Natal, Recife e Rio de Janeiro, sendo rapidamente esmagada. Seus líderes, inclusive Luiz Carlos Prestes, foram presos.
          Muitos leitores de hoje leram este poema sem conhecer a revolta de 35, e gostaram dele assim mesmo. Isso me parece demonstrar como Jacinta Passos, quando tratava de temas politicos, fazia boa poesia, nao panfleto.

*Imagem - Quadro de Candido Portinari.






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