Com as estrofes abaixo começa o poema épico "A Coluna", de Jacinta Passos, que constitui o conteúdo de seu último livro publicado em vida, A Coluna, lançado no Rio de Janeiro em 1957, pela A. F. Coelho Branco Editor, e integralmente republicado em Jacinta Passos, coração militante (Salvador, EDUFBA-Corrupio, 2010).
O longo poema épico recria episódios e personagens da Coluna Prestes, marcha de cerca de 25.000 km empreendida por homens e mulheres que, sob o comando entre outros de Miguel Costa e Luiz Carlos Prestes, percorreu durante dois anos (1925-1927) grande parte do interior do Brasil, perseguida por forças governamentais e privadas. Embora nunca tenha sido vencida pelas tropas do governo, a Coluna também não conseguiu o objetivo de comandar uma rebelião popular para depor os governos Arthur Bernardes e Washington Luiz. Sem perspectiva de vitória, acabou se embrenhando na Bolívia. A Coluna recria, em tom épico e evocações líricas, episódios acontecidos durante a marcha, cantando cenas de batalhas e do cotidiano da gente humilde que aderiu à revolta.
A partida
I
Ó céus e terras, tremei
que a Coluna já partiu
neste ano de Vinte e Quatro
todo o Brasil sacudiu
Coluna de vento e areia
dos desertos desafio?
Ó céus e terras, tremei
que a Coluna já partiu.
II
Partiu das terras do sul,
dos descampados sem fim
o gaúcho indaga atento:
para onde marcham assim?
– Adeus cidades que ficam,
Santo Ângelo de onde vim,
arredai serras, adeus
a quem fica atrás de mim –
Partiu das terras do sul,
dos descampados sem fim.