31.12.10

Comprimidos poéticos




Nos cadernos em que escreveu durante os últimos anos de vida, quando esteve internada na Casa de Saúde Santa Maria, em Aracaju, Sergipe, Jacinta Passos criou poemas, peças de teatro, letras de canção, textos sobre teoria da literatura. E alguns aforismos, que denominou "Comprimidos poéticos". Eis alguns deles, publicados pela primeira vez no livro "Jacinta Passos, coração militante":


Teu olho vê o que o teu coração quer.


Matéria morta: um fio do meu cabelo principia a morrer.


Criança não é propriedade – eis um princípio pedagógico.


Ver é optar.


Pensar é operar.

Morrer não é escolher.

* Imagem daqui .

8.12.10

A Coluna






Com as estrofes abaixo começa o poema épico "A Coluna", de Jacinta Passos, que constitui o conteúdo de seu último livro publicado em vida, A Coluna, lançado no Rio de Janeiro em 1957, pela  A. F. Coelho Branco Editor, e integralmente republicado em Jacinta Passos, coração militante (Salvador, EDUFBA-Corrupio, 2010). 
O longo poema épico recria episódios e personagens da Coluna Prestes, marcha de cerca de 25.000 km empreendida por homens e mulheres que, sob o comando entre outros de Miguel Costa e Luiz Carlos Prestes, percorreu durante dois anos (1925-1927) grande parte do interior do Brasil, perseguida por forças governamentais e privadas. Embora nunca tenha sido vencida pelas tropas do governo, a Coluna também não conseguiu o objetivo de comandar uma rebelião popular para depor os governos Arthur Bernardes e Washington Luiz. Sem perspectiva de vitória, acabou se embrenhando na Bolívia. A Coluna recria, em tom épico e evocações líricas, episódios acontecidos durante a marcha, cantando cenas de batalhas e do cotidiano da gente humilde que aderiu à revolta.

A partida

               I
  
Ó céus e terras, tremei
que a Coluna já partiu
neste ano de Vinte e Quatro
todo o Brasil sacudiu
será Coluna de fogo
que o viajante já viu.
Coluna de vento e areia
dos desertos desafio?
Ó céus e terras, tremei
que a Coluna já partiu.

II


Partiu das terras do sul,
dos descampados sem fim
o gaúcho indaga atento:
para onde marcham assim?
– Adeus cidades que ficam,
Santo Ângelo de onde vim,
arredai serras, adeus
a quem fica atrás de mim –
Partiu das terras do sul,
dos descampados sem fim.

 * Imagem copiada de Historianet